sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Eu deixarei que morra em mim



Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamenteexausto.No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida e eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz.Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado,quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada,que ficou sobre a minha carne como nódoa do passado.Eu deixarei... tu irás e encostarás a tua face em outra face teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para amadrugada mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande íntimo da noite,porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa,porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço e eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado.Eu ficarei só como os veleiros nos pontos silenciosos,mas eu te possuirei como ninguém porque poderei partir e todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas,serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada.

Vinícius de Moraes

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