sábado, 28 de julho de 2012

Estas

Por estas horas de tranquila e doce paz, 
Quanta serenidade o espírito me traz! 

É nestas horas, quando a treva se constela, 
Que ouço o teu canto nas estrelas, Filomela! 

Por estas horas, a minh'alma anseia por 
Teu encanto, Ventura! e teu engano, Amor! 

É nestas horas de tristeza e esquecimento 
Que eu gosto de ficar só com o meu pensamento. 

Por estas horas eu me julgo Parsifal 
Para ir pela renúncia à conquista do Graal. 

É nestas horas que, como um eco profundo, 
Repercute no meu o coração do mundo. 

Por estas horas transitórias e imortais 
Se desvanecem minhas dúvidas fatais. 

É nestas horas de harmonia indefinida 
Que eu tento decifrar o teu enigma, Vida! 

Por estas horas, meu instinto morre, com 
A intenção de ser justo, o anseio de ser bom. 

É nestas horas de fantástico transporte 
Que eu busco interrogar a tua esfinge, Morte! 

Por estas horas, eu me enlevo assim, porque 
Vela no lodo humano a luz que tudo vê... 

Por tuas horas silenciosas, benfazejas, 
Deusa da Solidão, Noite! bendita sejas!


Da Costa e Silva

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